domingo, 27 de maio de 2007

Paz...


Eu estava concentrada em meu escritório, preparando a palestra
que faria naquela noite em uma faculdade no outro lado da cidade,
quando o telefone tocou.

Uma mulher, que eu não conhecia, apresentou-se dizendo que era
mãe de um menino de sete anos e que ela estava morrendo.

Contou-me que sua terapeuta a aconselhara a não revelar este fato
ao meu filho, uma vez que isso seria traumático demais para a criança.
Mas aquele conselho não lhe pareceu correto.

Sabendo que eu trabalhava com crianças que sofreram perdas
familiares, ela pediu meu conselho.

Eu lhe disse que, geralmente, o nosso coração é mais esperto que o cérebro
e que ela deveria saber o que era melhor para seu filho.

Convidei-a a assistir à minha palestra naquela noite, uma vez que eu
falaria sobre como as crianças enfrentam a morte.
Ela prometeu que compareceria.

Mais tarde, eu me perguntei se a reconheceria durante a palestra.
Minhas dúvidas foram dissipadas quando avistei uma mulher frágil
sendo conduzida por dois adultos até a sala onde seria realizada a
conferência.

Na palestra, expliquei que as crianças percebem a verdade antes que
alguém lhes conte e que, quase sempre, esperam até sentir que os
adultos estejam preparados para expor os fatos antes que elas mencionem
suas preocupações e dúvidas.

Eu disse que, de um modo geral, as crianças lidam melhor com a verdade
do que com a negação dos fatos, mesmo que tal negação tenha o
propósito de protegê-las do sofrimento.

Disse também que devemos respeitar as crianças, fazendo com que elas
participem da tristeza da família, sem que se sintam excluídas.

Ela ouviu o que necessitava.
No intervalo, caminhou com muito esforço até a tribuna e disse entre lágrimas:

_ Meu coração já dizia isto.
Eu sabia que deveria contar a ele.

Ela prometeu que contaria tudo ao seu filho naquela noite.
Na manhã seguinte, recebi outro telefonema daquela senhora.

Apesar de sua dificuldade para falar, eu consegui ouvir a história contada
em voz sufocada.

Na noite anterior, quando chegou a casa, ela despertou o filho e lhe disse
com serenidade:

_ Derek, eu preciso lhe contar uma coisa.
Ele a interrompeu, dizendo:
_ Mamãe, voce vai me contar que está morrendo?

A mãe o abraçou, e ambos soluçavam enquanto ela lhe dizia:
_Sim.

Depois de alguns minutos afastou-se da mãe, dizendo que havia guardado
alguma coisa para ela.

No fundo de uma de suas gavetas, ele havia guardado uma velha
caixa de lápis.
De dentro da caixa, ele tirou uma carta, escrita com letras um tanto ilegíveis:

"Adeus, mamãe. Eu sempre vou amar voce."
Quando tempo ele esperou para ouvir a verdade, eu não sei.

Só sei que dois dias depois sua mãe morreu.
Dentro do seu caixão foram colocadas a caixa de lápis e a carta.


autor desconhecido

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